Fundação MT

Manejo de biodefensivos em sistemas agrícolas

O uso de produtos biológicos como uma ferramenta de manejo para grandes culturas tem se intensificado nas últimas safras. O sucesso na utilização dessa classe de produtos se inicia desde o armazenamento adequado, respeitando a faixa de temperatura ideal para que o produto mantenha-se viável, até a tecnologia de aplicação utilizada. Este último ponto envolve fatores fundamentais para obtermos a melhor eficiência dos produtos biológicos em campo, tais como, horário de aplicação, compatibilidade de misturas de calda e vazão.

Vale lembrar que produtos biológicos são organismos vivos que necessitam de condições climáticas adequadas para que se estabeleçam no sistema e exerçam seu papel como biocontroladores de pragas, fitopatógenos e nematoides. Assim, a aplicação em horários de menor temperatura e menor intensidade luminosa, bem como períodos de maior manutenção de umidade (Figura 1), favorecem o estabelecimento dos agentes de biocontrole. 

     


Figura 1. Condição climática favorável para aplicação de biológicos, com temperatura mais amena, menor radiação solar e alta umidade relativa do ar.

O setor de Biológicos da Fundação MT foi criado com o intuito de entender a dinâmica e integração de produtos biológicos no manejo das lavouras e dos sistemas agrícolas como um todo. Mesmo no cenário da safra atual, com atrasos e irregularidade nas chuvas, os produtos biológicos têm se demonstrado uma importante ferramenta no manejo das lavouras. Estratégias de manejo com a integração destes produtos contribuem na redução do estresse ocasionado tanto pelo clima, como pelas pragas e doenças. O uso de microrganismos têm apresentado papel fundamental na redução da incidência de mofo branco, uma doença importante e de difícil controle. 

O fungo causador do mofo branco, Sclerotinia sclerotiorum, possui diversos hospedeiros, incluindo a soja e o algodão, culturas que formam um dos sistemas agrícolas mais representativos do Mato Grosso. A velocidade da epidemia desta doença é extremamente dependente do inóculo inicial, ou seja, da incidência de escleródios na área. Estas estruturas permanecem viáveis no solo por vários anos e a aplicação de produtos biológicos, tais como Trichoderma spp e Bacillus spp, têm sido de suma importância para reduzir os impactos nos sistemas agrícolas, especialmente no sistema Soja/Algodão. O manejo com produtos biológicos é iniciado no estádio vegetativo da cultura da soja, visando a colonização dos escleródios pelos agentes de biocontrole (Figura 2). Dessa forma, a cultura subsequente também será favorecida, visto que haverá menor quantidade de inóculo presente na área quando ocorrer a semeadura do algodão.

Os patógenos, além de sobreviverem no solo por meio de estruturas de resistência, se estabelecem saprofiticamente em restos culturais no período de entressafra. Exemplo disso é o fungo Corynespora cassiicola, causador da mancha alvo na soja e no algodão, e outros patógenos como Septoria glycines e Cercospora kikuchii, que também vêm se destacando nas últimas safras ao ocasionar as doenças de final de ciclo na cultura da soja. As aplicações de produtos biológicos, quando efetuadas de forma preventiva e respeitando as condições para o estabelecimento do agente de biocontrole, representam uma importante ferramenta para aliar ao manejo de sistema e reduzir o potencial de inóculo de patógenos, estejam eles presentes na forma de estruturas de resistência no solo ou saprofiticamente em restos culturais. Além disso, é válido lembrar que muitos fitopatógenos são disseminados via sementes infectadas, o que torna importante o uso de microrganismos biocontroladores no tratamento de sementes ou no sulco de plantio.



Figura 2. Escleródios de S. sclerotiorum parasitados por Trichoderma spp.